terça-feira, 23 de dezembro de 2008




ainda

eu só fico bem quando não estou aí.
se tu não estás aqui, fico mal.

aí vou pra lá.

aqui e lá não são aí.
aqui, lá e aí poderiam ser
[se quiséssemos].

onde é que estou afinal?

q l ´inexistem
sem as tuas vogais.

_____________
_____________
_____________





segunda-feira, 15 de dezembro de 2008




no oceano,

O nível da água subia. E subia. E subiam as escamas. E a água se misturava e -- impiedosamente -- invadia a carne. Choques na espinha (de frio). E vontade. E vontade. de sacudir a cauda de peixe e escondê-la entre as pernas. E vontade. De partir. Mas as pernas dobravam na cauda. EUm caldo. Eu. for ia fog a da. fog ou. Se.




sábado, 13 de dezembro de 2008




o fim e o princípio

"Nós queremos ouvir histórias. Nós queremos saber de pessoas que falam da vida. Vocês não tem uma vida? Eu quero histórias... Como se vive ou se vivia no sertão e... As pessoas têm histórias."

Eduardo Coutinho -- dizem que é documentarista; para mim, um dos maiores etnógrafos contemporâneos.




(Coutinho) - A senhora reza de tudo, espinhela caída...
(Mariquinha) - Peito aberto, dor de cabeça, dor de dente. Olhado, quebranto, ventre caído. Triação. Mal vermelho. Tomar sangue de palavra. Espinhela caída é o cabra rezar aqui [mãos sobre os ombros] com uma trouxa de cinza, né? E alevantar os braços aqui, três vezes. E puxar aqui nas orelhas.
(C) - E a reza, qual é? E as palavras?
(M) - Não digo, não. Ninguém ensina, não, que não serve.
(C) - Sempre deu certo?
(M) - Deu. Toda vida. E tudo isso só vem pra minha casa.
(C) - A senhora cobra? A senhora cobra dinheiro?
(M) - Nunca recebi nada. Que reza não se vende. Vende?




"Sente, menino. Prá cá, rapaz. Pobreza não pega em vocês, não. (...)
A vida é um parafuso: só quem distorce é Jesus, né? No dia de chegar."

Assis, sertanejo do sítio de Araçás, Paraíba.




(esses são alguns momentos do documentário que acabei transcrevendo tamanha a dimensão dos significados dos temas abordados. sem dúvida, o 'olhar' da equipe do coutinho é extraordinário!)





terça-feira, 2 de dezembro de 2008




- Fireball!

Foi a única palavra que conseguiu pensar enquanto ainda estavam abraçados. Sentia o calor se formando no centro, envolvendo-lhe cada fibra muscular até as extremidades do corpo, proporcionando uma sensação jamais experimentada. Não foi necessário mais que alguns minutos para reconhecer o potencial viciante daquela droga selada pelo encontro em duo. Resignou-se. Ciente da vulnerabilidade àquele princípio, passivamente, aceitou a mudança de cor. Eu____foria tingida de novo (ao menos, era o que denunciava a imagem alaranjada refletida nas gotas d’água sustentadas pelo azulejo do banheiro).





quinta-feira, 27 de novembro de 2008





but it's hard to stay mad, when there's so much beauty in the world. Sometimes I feel like I'm seeing it all at once, and it's too much, my heart fills up like a balloon that's about to burst... And then I remember to relax, and stop trying to hold on to it, and then it flows through me like rain and I can't feel anything but gratitude for every single moment of my stupid little life...


últimas palavras de Lester Burnham em American Beauty (1999).





quarta-feira, 26 de novembro de 2008




2008 parece ser o ano da extinção dos sopros nos avós.

hoje, cessou o do nonno das minhas primas.
torço para que os ventos continuem a se formar nos pais das nossas mães e que eu consiga me juntar a eles para mais um abraço no final de semana.

_______
_______





sábado, 22 de novembro de 2008





essa sensação de estar morrendo em veneza, conheço bem.

(ah, essa vontade contida... será que eu agüento?!)





terça-feira, 18 de novembro de 2008




as palavras são o meu único bem.


é só o que eu tenho a ofertar ao mundo -- e o que posso levar dele.
é o meu maior tesouro. aquele que me é mais caro.
e eu sei disso desde pequena.

minha mãe ficava louca porque eu recortava e guardava os verbetes dos dicionários, das enciclopédias -- mesmo sem saber ler (e assim continuei após, até ela descobrir e me repreender). era algo que me emocionava mais que comprar figurinhas do Amar É ou do Alladin que eu gostava bastante à época e funcionava como moeda de troca na infância.

por isso me magoa muito quando as pessoas me interpretam mal ou ficam indiferentes ante o que escrevo, fazendo pouco caso.
sabe, eu não me comunico direito. tropeço nas palavras, me engasgo. eu preciso da escrita para me organizar, deixar o meu pensamento fluir.

quando eu gosto, leio.
quando estou bem, escrevo.
sem um ou outro, surto.
é fato.

(e aí não tem ansiolítico ou anestésico intravenoso que resolva -- basta voltar ao meu histórico de hospitalizações.)

2007 foi o meu pior ano. além de, praticamente, não me comunicar através da fala, não conseguia escrever também. nada. nenhuma linha. parecia que eu tinha mergulhado em mim atada a uma corrente de ferro... daquelas, com uma esfera na ponta. e eu só caía. nada de chegar ao fundo do oceano, tão pouco de emergir.

mas, agora, estou aqui.
cada um desses traços, desses pontos, dessas coisas repletas de sentidos me levam de volta ao lugar de onde vim, ao mesmo tempo que me guiam para onde quero chegar.

é só isso:
as palavras são o meu presente!




P.S.: há expressão mais bonita que "te dou a minha palavra"?

P.S.2: seu cretino!




quinta-feira, 13 de novembro de 2008





passeando pelo concreto cem cintos


sim.
sim___to
sim___tonia [as]
sim___co
..m___ti [go]
sim.

sim.

[sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim. sim.]





quarta-feira, 12 de novembro de 2008




Faust I - Faust und Gretchen

Die Gretchenfrage


GRETCHEN: ... Glaubst du an Gott?

FAUST: Mein Liebchen, wer darf sagen:
Ich glaub an Gott!
Magst Priester oder Weise fragen,
Und ihre Antwort scheint nur Spott
Über den Frager zu sein.

GRETCHEN: So glaubst du nicht?

FAUST: Mißhör mich nicht, du holdes Angesicht!
Wer darf ihn nennen
Und wer bekennen:
Ich glaub' ihn.
Wer empfinden
Und sich überwinden
Zu sagen: ich glaub ihn nicht!
Der Allumfasser,
Der Allerhalter,
Faßt und erhält er nicht
Dich, mich, sich selbst?
Wölbt sich der Himmel nicht dadroben?
Liegt die Erde nicht hierunten fest?
Und steigen freundlich blickend
Ewige Sterne nicht herauf?
Schau ich nicht Aug in Auge dir,
Und drängt nicht alles
Nach Haupt und Herzen dir
Und webt in ewigem Geheimnis
Unsichtbar-sichtbar neben dir?
Erfüll davon dein Herz, so groß es ist,
Und wenn du ganz in dem Gefühle selig bist,
Nenn es dann, wie du willst:
Nenns Glück! Herz! Liebe! Gott!
Ich habe keinen Namen
Dafür! Gefühl ist alles;
Name ist Schall und Rauch,
Umnebelnd Himmelsglut.

GRETCHEN: Das ist alles recht schön und gut;
Ungefähr sagt das der Pfarrer auch,
Nur mit ein bißchen andern Worten.

FAUST: Es sagens allerorten
Alle Herzen unter dem himmlischen Tage,
Jedes in seiner Sprache:
Warum nicht ich in der meinen?


- aus Faust I, Zeilen 3426-3465









cortando o ar aos berros desde 1985.











(despertar e manter o sopro.
é só o que eu penso ao abrir os olhos.
good morning, captain!)








"(...) compreender
é compreender-se
diante do texto."







(devidas ressalvas sócio-culturais aqui... para 'gente como a gente' (ocidentais, modernos, capitalistas, urbanos, ceteris ceteris)

RICOEUR, Paul. A função hermenêutica do distanciamento. In: A interpretação e ideologia. Rio de Janeiro. Francisco Alves. s.d.



"Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"

"Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"

"Muita coisa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras coisas
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram".

"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti".

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)





terça-feira, 11 de novembro de 2008

não é estranho um peixe morrer de sede?

for___a água transborda e inunda os cômodos,
cospe nas paredes,
lambe os espelhos.
e, aqui dentro, sede.
desertificando.
doendo os filtros.





PS: quem sofre dos nervos como eu -- e depende dos sais para não ficar rodopiando sem sair do lugar agarrada nas pás do ventilador de teto -- precisa beber água. muita água. água. água. água. ou amargar dores renais (e, vez em quando, hepáticas) terríveis.



i got soul, but i'm not a soldier. diz:
acho que por culpa tua voltei a ter vontade de escrever
i got soul, but i'm not a soldier. diz:
tua e da natália






segunda-feira, 10 de novembro de 2008




7. e quando cansamos de tudo. Quando cansamos de tudo foi que conseguimos que os pássaros voassem. À noite anterior encontramos a fórmula do vôo, e era banal, e cada um ensinou ao outro que a altura não é altura, que um homem que prende pássaros não sabe vê-los: soltamos as aves de verdade, prendemos as de arame. Abríamos cada gaiola, abrindo, no mesmo abrir, a porta de nossas casas. Pássaros foram saindo, fazendo o bonito barulho das penas. A alguns, necessário era a ajuda de nossas mãos para que acreditassem que estavam mesmo livres. Muitos pássaros haviam morrido e, mesmo aqueles que estavam secos, pareciam, pois, mais livres que nós. Vontade de morrer, aquela vontade nova que começávamos a sentir. Como nuvem carregada, eles foram enchendo o pavilhão. "Se chover pássaro, eu quero tomar banho pra me sentir livre", alguém teria falado, ou todos nós, ao mesmo tempo (...)".

A.M.










u
n
i
ver
soul

travelling

on each____other.





sábado, 8 de novembro de 2008




vento encanado

com o desempenho.
"suposições" ao invés de "proposições" surgiram no meu texto (aproximadamente) cinco vezes sem que me desse conta esta noite. só agora, horas depois, percebi. além disso, como de costume, cheguei um tanto eufórica da cadeira de pesquisa e estou avançando madrugada adentro estudando. até desmaiar em cima da literatura -- estou deveras chateada por ter confundido os delineamentos pré-experimentais entre si (caso único sem controle XO; pré e pós-teste com um grupo; e comparação com grupo estático) uma vez que o modelo que venho utilizando é o semi-experimental. che stronzo!

mas... chega!

não vou entrar nesta ciranda.
(ou não agüentarei -- física e emocionalmente -- até o mestrado e o doutorado.)
fica aqui o compromisso.






sexta-feira, 7 de novembro de 2008






NÃO SEJA UMA TRAÇA.
esqueça os traços que traço.
deixa de mimetismo.
não sou John Malkovich.
não há portal algum.
farewell.








Armar um tabuleiro de palavras-souvenirs.
Apanhe e leve algumas palavras como souvenirs.

Faça você mesmo seu micro tabuleiro enquanto jogo lingüístico.










quinta-feira, 30 de outubro de 2008





a sensação é de estar descolada.
o sentimento é ausente.


(mas é só mais um dia que ______ passa.)





sexta-feira, 24 de outubro de 2008

tum tum

sei que estou encrencada quando passo a madrugada na cia do walt whitman e assemelhados.
e lá vamos nós outra vez... "falhar novamente. falhar melhor"______ tentar ao menos.




We Become New
(marge piercy)

(...)

You are not my old friend.
how did I used to sit
and look at you? Now
though I seem to be standing still
I am flying flying flying
in the trees of your eyes.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008




vislumbrar a possibilidade de ter passado um ano completamente equivocada a teu respeito causa-me dor.




sábado, 11 de outubro de 2008





nostalgia de uma nerd que saiu do armário

sou um verme acadêmico filosófico-científico dos mais fervorosos -- sempre fui. esses dias, o meu amigo de colégio debochava de uma das minhas frases à época: "calem a boca que eu quero aprender!". não era pela nota. não era pela vaidade. era pela sensação de conhecer e apre(e)nder o novo que me fascina desde guriazinha. tem gente que nasce com o olho claro, a pele boa. eu nasci com um ponto de interrogação que vai muito além dos meus 165cm.

então é compreensível que, para mim, não tenha nada melhor que, numa sexta-feira, passar a noite em casa bebendo chá de hortelã, ouvindo música e lendo. e, claro, morar sozinha e ter amigos (maravilhosos) que entendam e respeitem essa atitude facilita a vida. lucky me!

tava revisando uns textos do simmel (a metrópole e a vida mental; formalismo sociológico e a teoria do conflito; o estrangeiro) e do park (a cidade: sugestões para a investigação do comportamento no meio urbano) quando, por snow-ball, acabei no texto do turner (o processo ritual -- estrutura e antiestrutura) e encontrei um "SOCORRO!!!" grafado à mão com letra de imprensa gigantesca nas costas da fotocópia.

bem, tô aqui rindo há um tempo e imaginando a cena. sim, porque poderia ter sido, contudo não fui eu quem escreveu o pedido de ajuda. estas são as cópias do mestrado em antropologia social da urguis que herdei da beth, minha antiga chefe. ela é médica psiquiatra/psicanalista e doutora em antropologia e não tinha o MENOR SACO para algumas lenga-lengas culturais e/ou sociólogicas reproduzidas ad infinitum lá no ppg do departamento.

ah! que saudades de me relacionar com gente cabeçuda e bem humorada!

a minha geração é uma merda.
se inteligentes, pedantes.
se divertidos, cabeças-ocas.

tá difícil, tá difícil...



quarta-feira, 8 de outubro de 2008




"(...) o homem livre é aquele que se conhece, mas que se conhece numa nova direção"

(mimeo.)






caro homem muro:

sem essa de aleatoriedades. racionalmente, elas existem, sim (e as tuas, sobretodas, são as mais legais). mas, não -- elas não existem! as aleatoriedades, quaisquer, NUNCA são completamente aleatórias. e isso não é nenhuma novidade desde o século passado. sendo assim, quando é que tu vais tirar um tempo para se pensar e encarar isso, hein? de que adianta tanta resistência? que merda de vida é essa?

afetuosamente,
mulher cerca_____viva.




terça-feira, 23 de setembro de 2008





no limite. eu atingi o meu limite. chega de vertigem. eu tenho um limite afinal. eu me joguei. de costas. de olhos e punhos fechados. mas pulei. eu tenho um limite. elástico. filosófico. relativista. mas um limite. eu gosto de ti. eu tento gostar de ti. só de ti. e consigo. e... eu gosto muito de ti. e não espero nada em troca -- pela primeira vez. nada. nenhuma expectativa. mas eu tenho um limite. eu descobri o meu limite. eu morro de tesão por ti. intelectual, físico... esse, não tem limite. eu entendo o teu tempo. a tua confusão. timidez. melancolia. mas o limite, ele existe e eu o tenho. será que tu tem limite? qual seria o teu limite? teria passado o teu limite e nem percebido? por favor, não seja o misterioso homem que desaparece. seja aquele que dá um pé na bunda. simples, direto. honesto e elegante.






quinta-feira, 11 de setembro de 2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008



nailed

Eu_____foria cravou um prego no meio da cara por _____. mas também para nunca cair em tentação (e crer) caso alguém sussurrasse: "que bonita!".
as pessoas, então, fitavam-na e sentiam asco. dor. horror. e, quando a elogiavam, tratava-se do prego.
não mais precisava ser bonita, embora -- para alguns -- às vezes, fosse.
Eu_____foria feliz.


(seis letras ocupavam muito espaço no universo dos nomes.)




quarta-feira, 3 de setembro de 2008



às traças

as traças

á vidas
devoram os livros
assim como eu
que traço

as traças

comem informação
e não gospem
conhecimento,
como eu,
que cago
mas

as traças

nem todas
traças
são traçadas

como

as traças

que traçam
papéis de bala
e notas
de futilidades
que guardam

as traças

que traço
imundas
se desfazem
no meu teclado

(às traças)


sábado, 23 de agosto de 2008



http://ainerciadealice.blogspot.com/



cada ponto,
uma migalha da letra.

dos autores

aqueles que as embaralham,
dinamizam em coreografias de palavras.

ritmadas

em allegro,
um belo adágio.

................................................

a natália queria ser mais eu.
eu
só queria ser mais natália.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008




à
inércia de alice sem natália nunca foi:

é teu aniversário e mal consegui estruturar uma piadinha na tua página de recados. não se trata de descaso ou falta de inspiração. é amor demais, entende?! desses que não se medem pela linguagem; desses que expressam mais que aquilo que está nos livros ou nos filmes que a gente gosta ou pira em cima. um amor que me é tão caro. bonito, maduro, constante. e só faz crescer.

mas também
à
natália com inércia sempre alice:

... quando tu acorda verde. vira pó. ou faz questão que eu ouça o coro da letônia: eu te amo. quando tu me abraça. a gente ensaia. ou vira uma camiseta suja na máquina de lavar: eu te amo. quando tu tá lacônica. chulezenta. ou com dor de barriga: admito... eu amo também.

sem etiqueta,
embalagem
ou fórmula

te amo assim. da maneira que eu sei e acredito. e não, não é o convencional das declarações dentro.do.olho.dentro, mas é amor. muito amor.

que tu SEJA
sempre

é o que te desejo hoje.

um beijo,

priscila.


sábado, 19 de julho de 2008





meu amor não é perfeito

amor perfeito é nome de planta do jardim da casa da mãe. ou da música do deschamps. ou do conto do altair. ou algo que se degusta em restaurante de elite com um vinho branco caro. uma violácea dessas que não atingem a altura de uma régua escolar. de flor única. e breve. deveria se chamar amor platônico. já vi cultivarem em floreira de apartamento e não dar certo. meses esperando o broto ideal e... uma lástima. me disseram que o interessante é ir apanhando as sementes pelo caminho e ver no que é que dá - resistir àquelas mecanicamente separadas e rotuladas em saquinhos coloridos vendidas no supermercado. encher as mãos. ambas. jogar tudo na terra. observá-las despontar cada uma a seu tempo até ficarem iguais nas suas diferenças. contemplá-las. até que se arranjem em um belo buquê aristotélico.







Cotidiano?







Vídeodança do Provisório Corpo.


(o próximo espetáculo tem previsão de estréia em outubro.)




quarta-feira, 16 de julho de 2008





"Priscila, tu acha que eu sou o teu capacho?", como dizia a minha mãe.




... mas esses daqui são:




quarta-feira, 9 de julho de 2008







(...)
Et je crie
Je crie pour toi
Je crie pour moi
Je te supplie
Pour toi pour moi et pour tous ceux qui s'aiment
Et qui se sont aimés
Oui je lui crie
Pour toi pour moi et pour tous les autres
Que je ne connais pas
Reste là
Lá où tu es
Lá où tu étais autrefois
Reste là
Ne bouge pas
Ne t'en va pas
(...)



Cet amour, de Jacques Prévevert




terça-feira, 8 de julho de 2008

sexta-feira, 4 de julho de 2008

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Reminiscências, empadinhas e coca-cola


- nossa, o que é isso?! (referindo-se ao lençol sobre a mesa de jantar e a mala escancarada no meio da sala) tua casa parece uma instalação da Bienal!

[após alguns minutos. já à mesa, que, agora, reassumira seu papel. discutindo sobre essa coisa de colocar muros a baixo. entre as empadas de carne e os goles de coca.]

- tu não é fácil mesmo. admiro o fulano ao lidar contigo. tu é um desafio para mim. naquela festa que te apresentaram, por exemplo, aquela mulher de coroa, macacão vermelho... me ignorou completamente, uma elizabeth taylor. mas eu sou teimoso.




15 de março de 2007.
meu aniversário. eu____foria (uma das últimas).
presente: o vander.

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o dito pelo não dito
código da elegância para as mensagens ditas importantes


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quinta-feira, 3 de julho de 2008

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a quatro mãos

"verbo, pronome, os pontos, as vírgulas...
de longe é tudo um conglomerado de risquinhos tentando fazer,
irremediavelmente,
sentido.
e pra quê?"

(suspiro)

para nos riscar na carne.
só.

e ardem.

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BORGES, Natália. BORGES, Priscila. Comentários da Eu____foria I. Caxias do Sul|Porto Alegre. Maio 2008.

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any other name
any given challenge

a road not taken

this is what it felt like
you
a poem
an actual path

legs no longer felt
the ground suddenly
disappaired

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terça-feira, 1 de julho de 2008

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Descolando as letras

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Tem uma coisas que não dão para entender.
E então a sobrancelha congela em vírgula numa fração de segundo.
Como assim?
Essa batida de faz de conta, esse ritmo enjoado que empacota até a poesia do título da música favorita, por exemplo.
Ffffffffffffffffffffffffffff.
Sopra a minha calma.
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Troquei de estação.
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No rádio, a freqüência com nome das areias da infância, de repente, fez sentido.
às vezes sou cruel
às vezes sou bobão
a vida é confusão

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E bebo mais meio litro de água.
Hoje já é o terceiro. Água pura e sem gás, algo que eu nunca gostei.
Goles curtos que.
Acompanham as frases frouxas que não seguro e vão arrebentando nos teclados.
Outra ressaca. Nada passa dessas ondas, you know? - nem aquele "s" do sim ou das seis da tarde de ontem (o hoje em que a minha felicidade era quase palpável).
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Take it slow
things will be just fine
if you and I
just use a little
patiance
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Terceira música.
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Tiro a blusa e o espelho me devolve a marca do toco.
Mais um para a coleção.
Droga!
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Bebe mais água. O corpo não dá conta de reter tanta doçura.
Dilui e expele logo isso daí.
E chega de cristalizar onde não deve.
Eu te acordei para tu dormir, lembra?



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Moinhos de Gastar Gente

Imagem: O Pioneiro


(as lixeiras de Caxias do Sul)



segunda-feira, 30 de junho de 2008

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Excesso de sal, açúcar e soco


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Eu te acordei aos berros e chutes, abrindo as venezianas e te cegando com a luz da manhã.
Eu te acordei com uma mensagem no celular para falar que Paris é a cidade mais linda em que já estive.
Eu te acordei para tu concordar mas também para dizer que francofilia é démodé.
Eu te acordei para discutir a tua vida no horário do almoço, entre os excessos de sal, açúcar e soco.
Eu te acordei para tu poder adoecer sem mim, mas com uma carteirinha.
Eu te acordei para tu dar tchau sem dar.
Eu te acordei para te mostrar que a distância entre nós não pode ser medida em duas horas de ônibus.
Eu te acordei para tu ver a morte naquela boléia.
Eu te acordei para bachelorette no volume 32.
Eu te acordei para tu dispensar o troco do taquis.
Eu te acordei para tu elogiar a tua amiga.
Eu te acordei para tu ler o que tava escrito AQUI... e ali.
Eu te acordei para tu dançar de felicidade.
Eu te acordei para tu dizer sim.
Eu te acordei para o inesperado.



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sexta-feira, 27 de junho de 2008

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"para que duas pessoas nunca se toquem -- ficando assim próximas do desejo e das partes internas do amor -- a pressa é hábil, lenta e hábil. sou eu que se confia ao tempo destas imagens que me são violentamente nítidas e à incisão das ideias que nunca me trocam de planos ou fazem viver fora da vida. planeio assim uma trajectória de entrada do meu núcleo no teu:
belíssimos temporais de inverno que nos infundem numa serenidade autista e uma paz tensa e enraizada que nunca vamos ter de explanar.
ser-me-á sempre possível respirar tão fundo a ponto de cair para trás, ter o dom de parar os olhos em ti e rasgá-los com uma voz que te seja indistinta.
irei contigo a todos os lugares e não pertencerei a sítio nenhum.
quero que saibas da minha necessidade universal de perder o ar pois só estancada saberei nadar pelas paredes fora. já viste as árvores geladas de inverno? impassíveis cortinas ___ e eu.
poderei dizer mais ainda?

na minha boca rebenta a espuma assimetricamente anterior a tudo isto."

dia por ama
ana calhau e eduardo prado coelho
texto editora, 2004.

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(extraído da página da minha amiga, lou lou)

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quarta-feira, 25 de junho de 2008







Eu___________________________________________________foria,

naquela noite,
acreditou

faria diferença no discurso
a troca
da vogal pela consoante

el___foria

não importa o gênero
atrelado à primeira pessoa
o verbo ainda não vai

ganha tempo,
enxuga

estas tuas lágrimas
estes poucos traços,
elforia

des cansa




sábado, 14 de junho de 2008

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- olha o meu piercing.
- parece uma lágrima.

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meses sem vê-lo.
foi o único que entendeu.

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terça-feira, 20 de maio de 2008







O homem com bunda de goleira



Eu___ nunca prestara à atenção nas derrières alheias. Mas de tanto equivocar-se quanto aos julgamentos de caráter, resolveu que, a partir de então, só os faria pela bunda.

Ligando os pontos, cu a cu, elaborou uma teoria precisa sobre a personalidade humana. Ciente do feito, optou por não fazer alarido sobre a descoberta. É evidente que não a levariam a sério -- ainda mais após a fuga do verbo. Além disso, quem ousaria contrariar o poeta e dizer: a tua bunda é um choro eterno, vitimizado e desinteressante?! Ela não. Não, ao menos, enquanto fosse cu doce.


Numa madrugada dessas de outono, ele a convidou para sair novamente. Eu___, exímia coletora de migalhas afetivas, acabou aceitando sob a desculpa: "só vou porque preciso descbrir o que diz aquela bunda! por isso!".

Encontraram-se na casa de amigos. Entre tantas bundas descaracterizadas por causa da meia luz ou do jogo de sofás, era necessário um certo malabarismo para fitar o alvo em questão. Numa retirada estratégica para pegar mais bebida na cozinha, voltou o seu olhar para sala exatamente no momento que ele se agachava.

"Meus sais! Ele tem bunda de mulher! Que bizarro! É uma bunda de mulher... E... Meus sais, meus sais! E é grande, enorme, muito maior que as coxas, as costas, o quadril. Nossa! Como é que fui me apaixonar por uma bunda à espera de um gol?".

O homem com bunda de goleira deixa um pesado copo de vidro cair no chão. Histeria coletiva predomina no ambiente. Eu____ desmaia sobre o verbo -- festa é um não lugar próprio para o refúgio da ação.

E, finalmente, estava pronta para reencontrá-lo.

Tirou o acento do cu e cobrou alguns pênaltis.




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ORIENTAÇÃO SEXUAL



30º 47 Lat N 9º 30 Lon O

.

terça-feira, 13 de maio de 2008

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1:04

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- We've been everything. Separatists, independantists, sovereignists, sovereignty-associationists.

- At first we were existentialists.

- We read Sartre and Camus.

- Then Fanon, we became anti-colonialists.

- We read Marcuse and became Marxists.

- Marxist-Leninists.

- Trotskyists.

- Maoists.

- After Solzhenitsyn we changed. We were structuralists.

- Situationists.

- Feminists.

- Deconstructionists.

- Is there an "ism" we haven't worshipped?!

- Cretinism.

- God no. Think of Guo Jing.

- Who was he?

- An archeologist... With a skirt slit to the crotch.

- Even you remember.

- China opens up to the West. She comes on a cultural exchange. The university sends its trusty radical, me... I enter the dining room of her hotel. I spot her, and die. Beauty that could melt Emperor Qin's terra cotta warriors. I order tea, we make small talk. I can see us doing Pekinese lotus.

- The Szechuan dragon.

- To make myself appear intresting, I dive in: "Your country has achieved so much. We're so envious. Your Cultural Revolution is wonderful!" Her lovely black eyes glaze over. I'm mortified to realize that she's thinking, "He's either a CIA agent or the worst cretin in the West." So much for the lotus and dragon. For two years she'd cleaned pigsties on a re-education farm. Father murdered, mother committed suicide. And some dumb French-Canadian who's seen the films of Jean-Luc Godard and read Philippe Sollers says that the Chinese Cultural Revolution, is wonderful!

- Cretinism doesn’t sink any lower.



- Voluntary simplicity. Scrambled eggs with ossetra caviar and fresh truffles. From Tuscany.

- And to stay in Italy, Castello Banfi Excelsus, a modest vintage.

- Why were we so dumb? Are we to infer congenital stupidity?

- Not at all.

- Intelligence isn't an individual trait. It's collective, national, intermittent.

- Oh, a new theory!

- Athens, BC. Euripides premieres his Electra. Two rivals attend, Sophocles and Aristophanes. And two friends, Socrates and Plato. Intelligence was there. Firenze, Palazzo Vecchio, on facing walls, two painters: Leonardo da Vinci and Michelangelo. An apprentice: Rafaello. A manager: Niccolo Machiavelli. Philadelphia, USA. Declaration of Independence and the Constitution. Adams, Franklin, Jefferson, Washington, Hamilton and Madison. No other country has been so blessed. I was born in Chicoutimi, Canada, in.

- It's a miracle you're not dumber.

- Everyone was dumb, in Athens and Chicoutimi. In Italy you'd have supported the Red Brigades.

- Now it's Berlusconi.

- Philadelphia voted George Bush.

- You see, you're not that dumb.

- Intelligence has disappeared, and it can take eons to come back.

- From Tacitus to Dante was what, centuries?

- The Arabs kept intelligence alive.

-True.

- You're not hungry?

- It won't go down.

- And you?

- No thanks.

- I never thought I'd see the day you'd turn down fresh truffles.

- Alas, that day is here.

- A sip of wine?

- Drink to my health and tell me how good it is.

- I'd like to bow out just like Felix Faure.

- Why am I not surprised?

- I can dream.

- Who was he? Why?

- Oh blessed Felix Faure, the President of the French Republic. His heart stopped beating, while his mistress the admirable Madame Steinheil, kneeling before him, bestowed on him the most glorious blowjob of all time.

- My god!

- His enemies gloated: "She seized him, the would-be Caesar and he had a seizure!". Henceforth Madame Steinheil was known as the kiss of death.

- I should be so lucky!

- It's not our fault if your heart is unstoppable.

- I'd like to remind you that at a certain time, I and several others here blew you most heartily, with enough force to capsize a schooner.

- What do you know about blowing boys?

- Well, sir, our efforts earned gushing praise. Heavens, that's hard to swallow.

- I'm beat.

- Go to bed.

- Aren't you coming?

- Not tonight.

- The Middle Ages, the manuscripts... The barbarians, everywhere, tomorrow...


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quinta-feira, 8 de maio de 2008

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Para a post___eridade

Numa discussão bastante filosófica (e laica) acerca da morte, minha mãe parafraseou Clarice Lispector. Quando mãe invoca essas coisas, a gente ignora a mulherzice... E posta.


"(...) O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc., etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada. Eu vos pergunto: - Qual é o peso da luz? E agora - agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?! Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim."

A Hora da Estrela, últimos pontos.

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sexta-feira, 2 de maio de 2008








Enquanto sonhava acordada, Eu___foria percebeu que a vida estava interrompida entre a garganta e o estômago. Pronome e verbo interrogavam-se há quanto tempo a vida não era digerida -- estavam a ponto de falência e urgiam por metabolisá-la. Densas massas de vômito brancas, imensas, eram arrancadas dela pelos braços de outrem e ornamentadas por moscas ao lado de fora do corpo. O verbo, valendo-se da distração dos punhos, saiu em disparada em busca do ____. Pronome ficou contemplando a cena e aguardando o retorno incerto do verbo. Era só o que poderia fazer: sem o verbo não haveria ação.

Eu___ venceu a inércia. Agora, apodrece enquanto ainda sonha acordada.




domingo, 20 de abril de 2008

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Hannah Pitt: Shut up! Please stop jabbering for one minute and pull your wits together and tell me how to get to Brooklyn, because you know and you're going to tell me because there is no one else around to tell me and I'm cold and I'm wet and I'm very, very angry. So I'm sorry that you're psychotic but just make an effort. Pull yourself together and take a deep breath.

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(Angels in America)
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quarta-feira, 9 de abril de 2008

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RESISTA A FERNANDO PESSOA
e Adélia Prado,
Clarice Lispector
e seus genéricos.

chega de mulherzices
melancolias
choramingos infinitos
auto indulgência
erotismo de dona de casa

suas aldeias não são universais: são chatas




(Pinky Wainer, TPM#63)
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uma mulher para se espelhar.
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sexta-feira, 4 de abril de 2008

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Morar sozinha é...

. deixar o lixo acumular na cozinha e removê-lo com o carrinho da feira;

. passar aspirador no teto às 2h da manhã para acabar com os mosquitos (e abafá-lo com as almofadas para o barulho não incomodar os vizinhos);

. "esquecer" a roupa limpa e úmida dentro da máquina de lavar por quase uma semana (ou até acabarem as peças do armário);

. dormir em cima do laptop (no quarto) e comer em cima dos livros (na sala de jantar);

. amanhecer com dores nas costas por teclar deitada, atirada sobre quatro, cinco ou seis travesseiros;

. maravilhar-se com o fato que a louça não precisa ser lavada imediatamente após cada refeição;

. poder ir visitar um amigo numa madrugada de domingo e não ter que dar explicações o que? onde? como? e por que?;

. adoecer clamando por um colo de mãe e uma canja para a alma;

. dar-se conta que há mais perfumes que garrafas d'água na geladeira;

. ficar se questionando por que diabos saiu da casa dos pais tão cedo!


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(how much happiness can someone stand before start spoiling it? why is it so much harder to accept happiness than coping with sadness? really... can't help but wonder.)





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terça-feira, 1 de abril de 2008

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Um e-mail que não te enviei
(ou um grande coração a alguns metros acima da cabeça)

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São 4h da manhã e, novamente, não consigo dormir. Mas, desta vez, o teu roncos não é o obstáculo. É engraçado esse teu roncos: é tão intenso que parece que há uns dez de ti ali, a driblar a respiração. E até é melhor para mim que sejam vários tus a vigilar pelo meu sono, a segurança multiplicada é bom para alguém que soma medos como eu.


Ich weiss jetzt, was kein Engel weiss. (Agora, sei o que nenhum outro anjo sabe.) Em Berlin, os anjos do Win Wenders eram incapazes de perceber as cores. Não sou anjo. Tão pouco estou em Berlin. As cores fortes e sombrias da máscara do João Ubaldo Robeiro - de fato - me assustaram durante a madrugada de ontem e obriguei-me a iluminar os meus medos. Faz sentido?! Para mim, fez. Só conto sobre os meus medos quando fazem (algum) sentido.


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a máscara

as tuas credenciais

as estruturas

os teus CDS

as outras coisas


O teu universo é um totem indicando como devemos nos portar diante de ti. São tantas coisas que sobra pouco espaço para arbitrariedade - por mais que se alegue.


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Quando o meu medo de agora a pouco (outra hora, comento) me remeteu ao medo da máscara do J.U.R. que, por sua vez, invocou a "construção do totem", surgiu a imagem daquele coração preso acima da janela. Pensei: "bá, como será que ele fez para pendurar aquele negócio lá em cima? que lugar difícil de se acessar!".


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(freeze)



True love
grafado num coração enorme, vermelho (sangue) e... Inacessível.



(unfreeze)



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Por que só reparei nisso agora?
Será que diz respeito ao lado de cá ou de lá do muro?
"um charuto não é (ou é?) só um charuto"(?).


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Quebrei aqui.


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Tu seres homem muro pode não ser de todo mal - pelo menos para mim-: um muro, não necessariamente, protege apenas um dos lados.

... talvez, seja uma espécie de altruísmo às avessas.

... e talvez, eu mesma tenha ajudado a colocar com alguns tijolos.

Também é possível que eu seja uma mulher cerca.


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"uma coisa que ainda não inventaram o nome".

E, finalmente, conseguiram me definir.

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segunda-feira, 24 de março de 2008

"A solidão é uma forma de morte".
Viver é cercar-se do fluxo dos outros.

Extrato da biografia que estou lendo de mademoiselle Simone, cujo discurso feminista, em grande parte do tempo, não ultrapassou a própria boca.

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(hoje, retomei a ferramenta de comentários; ontem, apaguei outro post. E aqui é assim mesmo.)

domingo, 23 de março de 2008






Fermentação



Dois dias sem dormir, nadando e vivendo de peixe, trouxeram-me aqui.
Estou vagando pela selva ágrafa.
Quero escrever as palavras no meu corpo porque elas insistem em fugir de mim.

Fito o espelho ao lado da cama e o que vejo é o cavalo.
humilhado e ofendido.
não me venha com o relho, o que estou precisando é de um afago.


segunda-feira, 10 de março de 2008

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Amor em grau

como dizia a propaganda, por que continuo a pensar inho se posso pensar ão?

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sexta-feira, 7 de março de 2008

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A menina que bateu o dedo no ventilador.
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- Alô.
- Alô. Mmm... Quem tá falando?
- É a Priscila.
- Oi, Priscila. É a ______, do mercado. Tu esqueceu o teu fichário aqui. Encontrei teus dados na tua agenda e, como não voltou procurando-a, resolvi ligar.
- Ah... Tá. (dou-me conta que estou sem o meu material há dois dias, prossigo.) Mas... Que mercado?
- Aquele... O que tu bateu o dedo no ventilador do refrigerador.
- Ah, sim. Sei. Daqui a pouco, passo aí para buscar. Muito obrigada por avisarem.
- De nada. Até logo.
- Até.
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Faz pouco mais de um mês que freqüento esse mercado aqui na José do Patrocínio. Ainda não decorei o nome do estabelecimento, o qual carinhosamente tenho chamado de o armazém porque me remete aos tempos de infância e aos mercad(inhos) de bairro lá em Caxias.
Não lembro com exatidão quando ocorreu a primeira visita, contudo creio que foi na semana que o Vander ainda estava no HPS, em coma. A minha cabeça andava mais confusa que o normal dado não apenas o que suscedera ao meu melhor amigo, mas ao inicío do consumo da carne.
Enfim... Recordo-me de, numa tarde de calor senegalês daquela semana, ter me batido uma sede de suco de limão incrível - e uma preguiça ainda mais inacreditável, assim não conseguiria ir até o Zaffari ou Nacional das redondezas. Coloquei o pé para fora do condomínio rezando para topar com alguma bodega aberta e pedir um resfresco azedinhodoce.
As minhas preces foram alcançadas uma vez que me dei conta da existência do armazém do outro lado da rua e avistar, já na entrada, a linha Gatorade. Ah, que delícia.
No ímpeto de pegar uma garrafa gelada, mergulhei dentro do refrigerador e, ao tatear as dezenas de garrafas plásticas com líquidos coloridos, distrai-me e quase tive o dedo amputado pelo ventilador do refrigerador. Os funcionários do mercadinho ficaram bem mais preocupados que eu com o in/acidente digital. "Tu teve sorte em não perder a unha ou a ponta do dedo", diziam. "Estou com a cabeça longe. Meu amigo tá hospitalizado e não consigo me concentrar em nada", retruquei. E então, muito solicitamente, fizeram um curativo no me dedo indicador direito.
Desde esse dia, sou conhecida pelos funcionários como "a menina que bateu o dedo no ventilador". Eles sempre perguntam do meu dedo - que nem sequer aparenta cicatrizes - mas tudo bem.
Agora, além dessa alcunha, sou "a menina que esqueceu o fichário". A menina que vive com a cabeça na lua, entretida num mundo que é só seu e que se basta sem agendas ou planos de aula.
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Realmente, tenho mais sorte que juízo, como diaria a dona Maria Trindade, mi madrecita. Desde a adolescência tenho enfrentado fortes dificuldades de concentração e memória. Não é a toa que as pessoas mais próximas foram apelidadas de HD (hard disk ou, no bom português, disco rígido) e, as demais, pen drives. Constantemente, estão me lembrando de coisas que disse ou fiz que nem faço idéia que foram processadas (devo operar só com os meus 256 de memória ram). Dizem que isso está relacionado ao meu quadro de bipolaridade - a alguma difunção no hipocampo ou semelhante - por isso alguns dos meus remédios tem como função corrigir este desvio. Que seja. Mesmo assim, com o passar dos anos e das crises, a caixola anda de mal a pior. Extravio de chaves, documentos, textos y otras cositas más. Portanto, se tu encontrares alguma coisa minha pelos teus rincones, por favor, atenta-me quando ao fato porque eu, meu bem, sou uma velha caduca.
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quinta-feira, 6 de março de 2008

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Linha divisória
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Ontem (quarta-feira), no caminho de volta da universidade para casa, pensava sobre os eventos que foram divisores de água na minha vida. Quando cheguei em casa, abri a minha correspondência eletrônica e lá estava um e-mail da minha amiga oráculo, mme. Lou lou, cujo título era praticamente homônimo ao tema das minhas reflexões. Resolvi postá-lo ipsis literis.
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_________se ele ainda estiver a dormir quando eu voltar ao quarto, e o clavicórdio continuar a reger o abismo com a sua simples presença e a sonoridade que pressinto, sento-me à entrada da ausência, aspirando o meu vagar nocturno e o movimento dos músculos das árvores,
lugar particular ali,
lugar universal aqui
(maria gabriela llansol. amigo e amiga. curso de silênco de 2004.assírio & Alvim,2006)
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domingo, 2 de março de 2008

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Para abrir o corpo e massagear as vísceras.


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Página 63.

(Maria do Rosário Pedreira, enviada pela minha amiga cariocasanguebom, Lou Lou.)

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"amada amiga

são as portuguesas que devoram cada cando do corpo, fazem de nós filete de esperança.... d'outro dia voltar, chegar nem que seja para vir apanhar os livros, soltar as palavras que olvidou-se.

beijocas em ti.
xoxoxoxox

Loulou seu oráculo."

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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o hesitar e o resolver

- vamos Sofia, uma lágrima só!

Teria sido belo recomeçar o mundo com ela numa solidão de náufragos. (...) em frente ao espelho do armário, recuas não de todo ignóbeis retomaram o passo seguro das aquiescências não totalmente desinteressadas.

Texto: Marguerite Yourcenar, Golpe de Misericórdia.
(enviado por mme. Lou Lou)
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(desabou e eu nem percebi. Mainardi, tua anta sou EU.)

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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Tenho chovido tanto que há uma infiltração na parede do quarto. O rodapé já envergou alguns centímetros, a tinta levantou bolhas e o mofo tomou conta. As pastilhas devem estar soltas, suspeita o amigo. Creio ser o sinal de que o muro está prestes a desabar na minha cabeça.
Por favor, empunhem as suas pás para me juntar em cacos.
Grazie.
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

De volta às noites de segunda-feira nas redondezas
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- Isso no teu óculos é um esparadrapo?
- Aham. É um band aid da Hello Kitty.
- Mmmm... Eu continuo te amando mesmo assim. Ó, experimenta esse pão, é doce.
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o melhor abraço. a melhor companhia.
(meu melhor amigo está aqui. <3 )

domingo, 24 de fevereiro de 2008

*republicando para comprovar uma teoria especulativa.


Várias mortes, um transe e uma vida.
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Há dois assuntos pelos quais sou realmente obcecada por: amor e morte.

Eu gosto de gostar (e muito). Quando eu não gosto, não vivo: sobrevivo. As paixões são o meu pulmão, o meu impulso. O amor, minha devoção.

Com as separações, definitivamente, não sei lidar. Os amigos vivem me chamando para despedidas disso ou daquilo - nunca vou. Com a morte, então - que envolve ritos de passagem e desencadeia uma infinidade de questionamentos e reflexões -, é ainda mais complicado. No entanto, desde o nascimento, a minha única regularidade é morrer muitas vezes. De amor, de tesão, de saudade. De chorar, de rir, de odiar... Simbólica ou não, a morte anda me cercando e eu tenho pensado sobre epitáfios.

[quebrei aqui]

Meu aniversário de vintetrês anos é em, aproximadamente, três semanas. Se eu morrer de morte morrida, isso deve ocorrer daqui uns cinqüenta anos. Meio século. Poxa, meio século. Tanta coisa mudou na segunda metade do XX. Será que a morte ainda será a mesma em cinqüenta anos?
Não interessa como estarei: embalsamada, mantida em nitrogênio líquido, cremada ou ____. Quero um túmulo bem bonito. Quero meu epitáfio com imagem e som. Um poema do Poe. Poderia ser The Lake, com a música homônima do Antony and the Johnsons e com imagens que me mantivessem viva - como a vista de Porto Alegre emoldurada pela janela do nono andar. Um filme sendo repetido ad infinitum, como aquela instalação do Tunga na Bienal de uns anos atrás - que mostrava a imagem do interior de um túnel acompanhada pela música Night and Day do Frank Sinatra, ambas sendo repetidas à exaustão, passando a idéia de continuidade, cirularidade e atemporalidade.

Simples assim. Várias mortes. Um transe.
E uma vida.

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The Lake

In spring of youth it was my lot
To haunt of the wide world a spot
The which I could not love the less -
So lovely was the loneliness
Of a wild lake, with black rock bound,
And the tall pines that towered around.
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But when the Night had thrown her pall
Upon that spot, as upon all,
And the mystic wind went by
Murmuring in melody -
Then –ah then I would awake
To the terror of the lone lake.
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Yet that terror was not fright,
But a tremulous delight -
A feeling not the jewelled mine
Could teach or bribe me to define -
Nor Love – although the Love were thine.
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Death was in that poisonous wave,
And in its gulf a fitting grave
For him who thence could solace bring
To his lone imagining -
Whose solitary soul could make
An Eden of that dim lake.
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(Edgar Alan Poe)

me and you and everyone we know

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

. eu ainda te amo
. é sempre amor mesmo que mude
. o meu não mudou
. o meu, sim - era isso ou a demência .

(aquilo ali é um ponto)
Estranhas Ocupações
Simulacros

"Somos uma família estranha. Neste país onde as coisas se fazem por obrigação ou fanfarrona, gostamos das ocupações livres, das tarefas sem importância, dos simulacros que de nada adiantam.
Temos um defeito: a falta de originalidade. Quase tudo o que resolvemos fazer foi inspirado – digamos francamente, copiado – de modelos célebres. Se contribuímos com alguma novidade é sempre inevitável: os anacronismos ou as surpresas, os escândalos. Meu tio mais velho diz que nós somos como as cópias de papel-carbono, idênticas ao original, salvo que de outra cor, outro papel, outra finalidade. Minha terceira irmã se compara ao rouxinol mecânico de Andersen; seu romantismo dá náuseas.
Somos muitos e moramos na Calle Humboldt.
Fazemos coisas, mas contar é difícil porque falta o mais importante, a ansiedade e a expectativa de estar fazendo coisas, as surpresas tão mais importantes que os resultados, os fracassos em que toda família cai no chão feito um castelo de cartas e durante dias e dias não se escuta mais do que lamentações e gargalhadas. Contar o que fazemos é apenas uma forma de preencher os vazios inevitáveis, porque às vezes estamos pobres ou presos ou doentes, às vezes morre alguém ou (custa dizê-lo) alguém trai, renuncia, ou entra para a Direção do Imposto de Renda.(...)"
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el grand J.C.
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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008


(as minhas bobagens - e a quarta-feira - começam aqui. )

sempre na primeira pessoa
sempre a primeira pessoa.

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Queria comentar acerca (mas tenho preguiça):

10) da Aline Wanessa, a Nazaré Afro do Madre Pelletier (na época da pesquisa do ODH);
9) do aquecimento das paredes frias do novo apartamento e da fase que dormia no chão da sala, num cantinho;
8) das duas solidões acompanhadas que vi ali na rua da República noutro dia;
7) de como não me sinto sozinha no banho porque enxergo os outros prédios;
6) das tabas e das canastras no Gaspar (e das gargalhadas sobre o caso da mulita);
5) de como guardo mágoa de caboclo e estou puta com dois ou três;
4) das podridões do sistema bancário e da minha moratória;
3) dos porquês das deleções dos posts, dos perfis e da vida;
2) da falta que sinto de ficar calada enquanto o marcelo fala pelos cotovelos;
1) das distribuições espaciais e o poder que têm sobre mim.

(estou mais para a contemplação que para qualquer outra coisa.)
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P.S.: Ainda há tempo?!
Teu cheiro, teu gosto
faltam em mim.
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So lovely was the loneliness

(and I've got it back.)

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sábado, 16 de fevereiro de 2008

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Eduardo P. Coelho (de novo) através do olhar de Mme. Lou lou, cujos e-mails são praticamente o meu oráculo do cotidiano.
Merci.



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I I

Os pares corriam contra as paredes- e embatiam nelas. A chuva ouvia-se lá fora.
Estavam fechados num barco, numa casa de campo, num bar à beira da estrada.
Dançavam sobre pregos e facas, lançando berlindes para iludirem a dor.
Ele soltava gemidos ofegantes. Ela lançava sobre o rosto amado a massa densa dos
cabelos um tecido granuloso de compaixão e ódio. Corriam à espera de uma palavra,
de um momento de paz, de uma fresta abrindo-se na tempestade.
Exaustos, esvaídos de energia, mergulhados no filtro do amor, erguim-se
os olhos vazios como lâmpadas apagadas e corriam contra as paredes,
batendo nelas com as mãos.
I
E os dois trocaram gestos de luz- nada mais do que isso, mas era preciso.
Dançavam em silêncio.

(Eduardo Prado Coelho, a razão do azul.)

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


Fios



"(...) tantas e tantas vezes já fui para debaixo do chuveiro chorar um choro impossível de ser chorado. aquele que dói e a gente lava, e deixa a água correr pelo corpo, e água não lava e não lava e não lava. o desespero de notar mais uma marca na gente, dessas que não saram. ferida aberta. que insiste em doer em dias de chuva. os teus corredores me lembraram isso. os conhecimentos de sal impossíveis de arrancar de dentro. as matérias de memória gris. esses descompassos absurdos, incompreensíveis, quando tudo desanda e é hora de fim. o estreito deles sufoca. e os amarelos e marrons só confirmaram a sensação (inesquecível) de corpos que não se entendem mais.
- o pior de tudo é o percurso. como se não bastassem as cores... o caminho é longo, vê? e cheio de fios."
(V.F.S. in poche, enviado-me pela mademoiselle Lou Lou)
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008


Bibliochaise.
(comporta 5m de livros. até já sei quais. with my monopoly money, I'll by myself a piece.)
www.nobodyandco.it

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"Todo brasileiro deveria ter acesso a lagostas grelhadas"
Tim Maia.



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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Le beau est toujours bizarre.

Acordei há, aproximadamente, meia hora (agora, são 7h10). Completamente desencontrada e com a sensação de que estava no antigo quarto na casa dos meus pais, em Caxias.
Esse despertar foi precedido por um pesadelo (daqueles sem nenhum sentido, misterioso e... inenarrável) que também se passava naquela cidade. Muitas lembranças e sensações - que há quase uma década não experimentava - foram invocadas por essa traquinagem da mente.
Asfixiada pela angústia, pensei: algo bonito vai me colocar de volta nos eixos. O computador estava ao lado e, ao alcance de um clique, muitas imagens belas - sobretudo aquelas das flores que o Estevão, meu amigo virtual, enviou-me uns meses atrás.
Entretanto, perdida na pasta dos "meus arquivos recebidos", a que me chamou à atenção foi a bizarrice dessa imagem dos pés sendo atados. E decidi que seria esta mesma a alegoria do post.
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(a água ferveu, estou preparando um chá. de camomila porque a nona fala que é bom para quem sofre dos nervos. Penso que deveria voltar a colecionar chás: descobrir novos aromas, combinações de plantas, origens e gostos. Era uma pilha legal aquela do chá. Fui muito feliz quando o armário da sala era repleto de florzinhas desidratadas que coloriam e aqueciam as minhas tardes.)
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A estratégia da imagem não funcionou. Tentativa e erro, prossegui.
Então decido abrir a janela, algo que raramente faço porque não suporto receber a intensidade da luz (sobretudo as das manhãs) toda, de uma única vez. Costumo abrí-la aos poucos, assim o dia vai me conquistando e me preparando para noite.
Aqui, através da moldura do nono andar, a cidade que me acolhe é fria e cinza, mas está próxima - e isso já é suficiente para me confortar. E eu me acalmo um pouco...
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Penso no colo da mãe e nos bolinhos de chuva que ela tem se negado em preparar porque engordei - e ela acha que são muito calóricos, logo não deveria. (tudo bem, mãe, isso me incomoda, mas eu te entendo.) Acho que estou com saudades.
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Dificuldade em me concentrar e dos pensamentos se afinarem um ao outro. Uma mistura de cansaço e loucura me fazem companhia.
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O chá já está morno.
Vou bebê-lo nos braços de concreto e fechar a janela para tentar descansar mais um pouco.
Vou quebrar aqui.
Dorme, Priscila, dorme.
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