sábado, 14 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009




polifonias


Em silêncio, aguardavam pelo atendimento. Ela estava na segunda cadeira da esquerda pra direita, na terceira fila distraindo-se com a textura das novas caixas de postagem. Ele, no sentido oposto, entediado na quinta fileira, folheava a última revista dos Correios. De repente, ouviram a moça do guichê anunciar: Euforia, pode passar. Os dois se levantaram.

- Com licença. Me desculpe, mas acho que é a minha vez. Meu nome é Euforia.
- Sim, tudo bem. Mas meu nome também é Elforia.
- Como assim, Euforia? Também?! É impossível. Mamãe criou esse nome pra mim trocando o "u" de Eufúria. Tu tá me sacaneando porque não aguenta mais esperar na fila, né? Não achei nada engraçado. Pode sentar aí e esperar a tua vez, moço.
- Não, não. Tu não tá entendendo. Não tem nada de "u". Meu nome é com "éle". ELforia. Sabe mitologia? Elfos? Então. Minha mãe viu a imagem de um num calendário do cartório onde me registrou. Ela achou que era um sinal. Como sorria, logo Elforia.
- HAHAHAHAHAHA! HAHAHAHAHA!
- hrjwrwejrjhwkrwrw! wfdskfskfjskfksfs!
- Nossa!
- Hmmm... Que houve?
- Mas tu ri só com as consoantes? Como tu consegue?
- Ué? Como assim, guria?! Eu rio normalmente. Tu tá louca?
- Não, não tô.
- Tá, sim.
- Ri de novo. Tu ri diferente de todo mundo que eu conheço.
- Não rio, não.
- Ri, sim.
- Esse papo tá me aborrecendo. Não quer ser atendida? Pois eu quero. Com licença.
- Mas... Elforia, eu...
- Me deixa.

Euforia sentou-se novamente na segunda cadeira da terceira fila, mas agora da direita pra esquerda. Ficou observando Elforia retirar o seu pacote. Sim, era mesmo a vez dele. Ela havia se enganado. Mas isso ela tirou de letra -- inclusive as raras coincidências dos nomes e desvario das mães. O que ela não entendia é como alguém poderia gargalhar sem as vogais, sem escancarar a boca e colocar o ar pra fora. Foi quando percebeu:

- Acho que ele consegue porque ri só em minúsculas.