quinta-feira, 30 de julho de 2009






(ilustração: m.k.)







caro Deus,

gostaria de saber se isso é uma piada cósmica ou algo do gênero. se não for o caso, trata-se de uma alucinação ou ele realmente existe?

atenciosamente.

Tua amiga,
priscila.






segunda-feira, 27 de julho de 2009




Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas


Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio


Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação


Não posso adiar o coração.


(A.R.R.)




domingo, 26 de julho de 2009

Ele tinha sangue nos óculos quando saiu do elevador. Era marrom e por isso achei que fosse  barro ou alguma outra sujeira qualquer. Não, droga, é sangue mesmo... Seco. Tava trabalhando até agora. Empresta um pano, por favor! Será que ele sente prazer cortando as pessoas? Será que ele sente? Senta. Preciso escovar os dentes e colocar um casaco. A bolsa está morna, é melhor aquecer mais água pra inflar a borracha. Céus, nada parece aguentar a sutileza dos teus passos de elefante: Ela estourou. Tudo que é teu é assim, não é mesmo? Não se vaza, não se rasga, não se pinga: sexplode. A água quente acabou encharcando aquele tapete velho e diluindo a sujeira abrigada sob a poltrona. tu há de secar tudo em três minutos ensopando outras quatro toalhas – mas só após reconhecer que o problema não se resolveu por si. Tu sabe o quão detestável é isso, não sabe? Olha, olha. Olha só! Esse vapor condensado de água recém fervida dá vontade de respirar mais fundo... Posso ver o ar improvisando uma bela coreografia pras fossas. Ah, esqueça isso. Está tarde, vamos sair. Hoje, tu é minha convidada! Vamos. Estou faminto.

sábado, 25 de julho de 2009




toco, cera, cone



O que eu vejo é distorcidbo; é multiplicado;;; borrrrrado. As minhas lentes são mágicas e agora me dizem que isso não tem nada de fantástico: é uma doença. UMA DOENÇA. Por que insistem em calcular o meu desvio? Por que não consigo com que vejam alguma nobreza nas minhas imperfeições? a singularidade está toda ali, não está? no meu sino dobrado, nas minhas cicatrizes grosseiras do pulso, peito e pernas. Existe harmonia na deformidade que alcança o espelho e por isso alguns me elogiam. Eu queria gritar Não gosto, não gosto, mas o meu sorriso e gentileza diante da lisonja me traem. Porque nada é aquilo que me dizem. mas também nada é isso que pareço ser. acho que a verdade não tem foco.








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No asfalto
, as pequenas folhas amarelas seguem o curso da quadra entre um semáforo e outro da larga avenida. Ultrapassam as faixas, driblam os carros, envolvem os pedestres. Distração e tanto.




sexta-feira, 24 de julho de 2009

Página 161 do romance mais próximo:


"- Nada de ofensivas. Nada de aviones. Nada de pontes. Só neve, neve..."


E.H. Por quem os sinos dobram.

PS: os livros realmente nos escolhem. e são os melhores oráculos -- sempre.

quinta-feira, 16 de julho de 2009





odeio esse lugar.
odeio esse lugar que não é aquele nem o outro. o que é que eu estou fazendo nesse lugar? como é que eu vim parar nesse lugar? eu merecia aquele lugar. ou o outro. qualquer coisa menos esse. será que um dia tu ainda me explica porque eu vim parar nesse lugar -- e não aquele. e nem... o outro?















A FLOR

Penso que cultivo tensões
como flores
num bosque
onde ninguém vai.

Cada ferida — perfeita —,
fecha-se numa minúscula imperceptível pétala,
causando dor.

Dor é uma flor como aquela,
como esta,
como aquela,
como esta.

(R.C.)



segunda-feira, 13 de julho de 2009




derri dando se em schoolsickness

já estabelecido no meio acadêmico, derrida ainda sentia no corpo (dores no peito e no estômago) a ansiedade e o desconforto em estar naquele ambiente. mesmo assim, faca no livro que era, nunca abandonou os estudos. isso É admirável [muito]. e também um grande exemplo pra mim (que somatizo tudo e tenho verdadeira aversão àquele show de horrores intelectualizado). todo dia é um soco no pâncreas. aliás... sabe a causa mortis do derrida? câncer... NO PÂNCREAS.


mon frère jacques, honestamente:
ninguém aguenta.

PS: até quando?





sábado, 11 de julho de 2009




There's a certain satisfaction
In a little bit of pain







(não consigo relaxar, não há jeito. eu preciso sentir dor (muita dor) pra isso passar. here I go again responding to an aesthetic exorcism demand. what a hell! can't wait for it! "Only the one that hurts you can make you feel better. Only the one that inflicts pain can take it away.")







Bittersweet Symphony

resiti o quanto pude, mas -- sim, bato no peito três vezes e admito --: estou por um triz abandonar a ciência em definitivo e me pautar só pela astrologia. não, não se trata da garrafa de vinho argentino ou o adiantado da hora. é sério mesmo: os astrólogos andam tão certeiros nas previsões que me dá um medoreginaduarteprogagandadopsdb. todas as coisas ruins previstas pra mim nos últimos meses se realizaram (sobretudo as do mês anterior). uma verdadeira merda, não é? mas tudo bem. parece que julho é o meu mês: o amor vai me (re)encontrar! uhu! (ok. é dia 11 e... nada. alô amor, favor mandar um telegrama de aracaju ou do alabama. thank you.) até gostaria de escrever sobre isso, no entanto: "Prudência com palavras e atitudes". melhor não contrariar.

(ilustração: m.k.)



quarta-feira, 8 de julho de 2009




Entre a linhamorta e a linhachegada -- no acaso, quase lá!


"We are not what we dream. We are what we do, and all we have is action, and we can only really learn from experience. So if we can only learn from experience, what use is all this knowledge? (...) And so as you go out into the world, be aware of those inexperienced fools who offer easy, exotic solutions to painful and complicated problems. Do your best to learn from all your experiences, not just the sting of your failures, but also from the joyful accidents that will occur along the way."


Wayne Coyne, profeta e futuro líder mundial - ah, sim, e também vocalista do Flaming Lips -, num discurso de formatura que incluiu água-viva, tequila e outras estranhezas.




quinta-feira, 2 de julho de 2009




sadismfaction

ao menos, eu gostaria que fosse algo asqueroso, nojento, perturbador... comovente! mas se trata do oposto disso: faltam sangue, vísceras ou até mesmo agitação de bicho pedindo clemência. quando a gente esmaga uma traça com o pé não sobra nada além de uma poeirinha rala e sem graça na sola do calçado. apenas a sujeira entediante de um bicho-nada. uma existência medíocre alimentada por restos do teu papel, lã e pó. aqui em casa, não hesito duas vezes em pisar em cima delas com força. se estou pelo entretenimento, então eu brinco de marquesa e recolho aquele monte de bicho-nada com o papel enxarcado de urina e coloco no cesto de lixo para ir morrendo assim, aos poucos. ah, como é bom! morder os lábios e ficar imaginando a deterioração daquele algo-nada que também nunca me disse (nada) naquele monte de merda. toda a ambiguidade e satisfação de um sorriso de canto estampado no vidro redondo. sim, o sadismo é tempero -- o melhor deles.







momento amparo de moça





ok. apresentação minha no leeds pub, dia 03/07, às 22h. compareçam! diz:
I find it hard to believe you don't know
The beauty that you are
But if you don't, let me be your eyes
A hand in your darkness, so you won't be afraid
é tão bobo, mas tão lindie
serve para ti, para nós





(ALÔ, CASSIENSES, O SHOW DELE É IMPERDÍVEL!)








ah, inferno! as minhas deduções andam pra lá de grosseiras, cruas. estou mais prum açougueiro enfurecido destrichando um porco ainda aos berros entre um ponto e outro que qualquer outra coisa. às vezes, invejo a elegância dos meus colegas ao dissecar as palavras. eles, médicos legistas, limpos, devidamente uniformizados e eu cá: sempre fedida, atrás do balcão com sangue velho apodrecendo sob as unhas.







linhasmorta
linhasmorta.







(hora de amolar as facas e sangrar o próximo texto.)