sábado, 14 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009




polifonias


Em silêncio, aguardavam pelo atendimento. Ela estava na segunda cadeira da esquerda pra direita, na terceira fila distraindo-se com a textura das novas caixas de postagem. Ele, no sentido oposto, entediado na quinta fileira, folheava a última revista dos Correios. De repente, ouviram a moça do guichê anunciar: Euforia, pode passar. Os dois se levantaram.

- Com licença. Me desculpe, mas acho que é a minha vez. Meu nome é Euforia.
- Sim, tudo bem. Mas meu nome também é Elforia.
- Como assim, Euforia? Também?! É impossível. Mamãe criou esse nome pra mim trocando o "u" de Eufúria. Tu tá me sacaneando porque não aguenta mais esperar na fila, né? Não achei nada engraçado. Pode sentar aí e esperar a tua vez, moço.
- Não, não. Tu não tá entendendo. Não tem nada de "u". Meu nome é com "éle". ELforia. Sabe mitologia? Elfos? Então. Minha mãe viu a imagem de um num calendário do cartório onde me registrou. Ela achou que era um sinal. Como sorria, logo Elforia.
- HAHAHAHAHAHA! HAHAHAHAHA!
- hrjwrwejrjhwkrwrw! wfdskfskfjskfksfs!
- Nossa!
- Hmmm... Que houve?
- Mas tu ri só com as consoantes? Como tu consegue?
- Ué? Como assim, guria?! Eu rio normalmente. Tu tá louca?
- Não, não tô.
- Tá, sim.
- Ri de novo. Tu ri diferente de todo mundo que eu conheço.
- Não rio, não.
- Ri, sim.
- Esse papo tá me aborrecendo. Não quer ser atendida? Pois eu quero. Com licença.
- Mas... Elforia, eu...
- Me deixa.

Euforia sentou-se novamente na segunda cadeira da terceira fila, mas agora da direita pra esquerda. Ficou observando Elforia retirar o seu pacote. Sim, era mesmo a vez dele. Ela havia se enganado. Mas isso ela tirou de letra -- inclusive as raras coincidências dos nomes e desvario das mães. O que ela não entendia é como alguém poderia gargalhar sem as vogais, sem escancarar a boca e colocar o ar pra fora. Foi quando percebeu:

- Acho que ele consegue porque ri só em minúsculas.



quarta-feira, 19 de agosto de 2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

quinta-feira, 30 de julho de 2009






(ilustração: m.k.)







caro Deus,

gostaria de saber se isso é uma piada cósmica ou algo do gênero. se não for o caso, trata-se de uma alucinação ou ele realmente existe?

atenciosamente.

Tua amiga,
priscila.






segunda-feira, 27 de julho de 2009




Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas


Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio


Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação


Não posso adiar o coração.


(A.R.R.)




domingo, 26 de julho de 2009

Ele tinha sangue nos óculos quando saiu do elevador. Era marrom e por isso achei que fosse  barro ou alguma outra sujeira qualquer. Não, droga, é sangue mesmo... Seco. Tava trabalhando até agora. Empresta um pano, por favor! Será que ele sente prazer cortando as pessoas? Será que ele sente? Senta. Preciso escovar os dentes e colocar um casaco. A bolsa está morna, é melhor aquecer mais água pra inflar a borracha. Céus, nada parece aguentar a sutileza dos teus passos de elefante: Ela estourou. Tudo que é teu é assim, não é mesmo? Não se vaza, não se rasga, não se pinga: sexplode. A água quente acabou encharcando aquele tapete velho e diluindo a sujeira abrigada sob a poltrona. tu há de secar tudo em três minutos ensopando outras quatro toalhas – mas só após reconhecer que o problema não se resolveu por si. Tu sabe o quão detestável é isso, não sabe? Olha, olha. Olha só! Esse vapor condensado de água recém fervida dá vontade de respirar mais fundo... Posso ver o ar improvisando uma bela coreografia pras fossas. Ah, esqueça isso. Está tarde, vamos sair. Hoje, tu é minha convidada! Vamos. Estou faminto.

sábado, 25 de julho de 2009




toco, cera, cone



O que eu vejo é distorcidbo; é multiplicado;;; borrrrrado. As minhas lentes são mágicas e agora me dizem que isso não tem nada de fantástico: é uma doença. UMA DOENÇA. Por que insistem em calcular o meu desvio? Por que não consigo com que vejam alguma nobreza nas minhas imperfeições? a singularidade está toda ali, não está? no meu sino dobrado, nas minhas cicatrizes grosseiras do pulso, peito e pernas. Existe harmonia na deformidade que alcança o espelho e por isso alguns me elogiam. Eu queria gritar Não gosto, não gosto, mas o meu sorriso e gentileza diante da lisonja me traem. Porque nada é aquilo que me dizem. mas também nada é isso que pareço ser. acho que a verdade não tem foco.








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No asfalto
, as pequenas folhas amarelas seguem o curso da quadra entre um semáforo e outro da larga avenida. Ultrapassam as faixas, driblam os carros, envolvem os pedestres. Distração e tanto.




sexta-feira, 24 de julho de 2009

Página 161 do romance mais próximo:


"- Nada de ofensivas. Nada de aviones. Nada de pontes. Só neve, neve..."


E.H. Por quem os sinos dobram.

PS: os livros realmente nos escolhem. e são os melhores oráculos -- sempre.

quinta-feira, 16 de julho de 2009





odeio esse lugar.
odeio esse lugar que não é aquele nem o outro. o que é que eu estou fazendo nesse lugar? como é que eu vim parar nesse lugar? eu merecia aquele lugar. ou o outro. qualquer coisa menos esse. será que um dia tu ainda me explica porque eu vim parar nesse lugar -- e não aquele. e nem... o outro?















A FLOR

Penso que cultivo tensões
como flores
num bosque
onde ninguém vai.

Cada ferida — perfeita —,
fecha-se numa minúscula imperceptível pétala,
causando dor.

Dor é uma flor como aquela,
como esta,
como aquela,
como esta.

(R.C.)



segunda-feira, 13 de julho de 2009




derri dando se em schoolsickness

já estabelecido no meio acadêmico, derrida ainda sentia no corpo (dores no peito e no estômago) a ansiedade e o desconforto em estar naquele ambiente. mesmo assim, faca no livro que era, nunca abandonou os estudos. isso É admirável [muito]. e também um grande exemplo pra mim (que somatizo tudo e tenho verdadeira aversão àquele show de horrores intelectualizado). todo dia é um soco no pâncreas. aliás... sabe a causa mortis do derrida? câncer... NO PÂNCREAS.


mon frère jacques, honestamente:
ninguém aguenta.

PS: até quando?





sábado, 11 de julho de 2009




There's a certain satisfaction
In a little bit of pain







(não consigo relaxar, não há jeito. eu preciso sentir dor (muita dor) pra isso passar. here I go again responding to an aesthetic exorcism demand. what a hell! can't wait for it! "Only the one that hurts you can make you feel better. Only the one that inflicts pain can take it away.")







Bittersweet Symphony

resiti o quanto pude, mas -- sim, bato no peito três vezes e admito --: estou por um triz abandonar a ciência em definitivo e me pautar só pela astrologia. não, não se trata da garrafa de vinho argentino ou o adiantado da hora. é sério mesmo: os astrólogos andam tão certeiros nas previsões que me dá um medoreginaduarteprogagandadopsdb. todas as coisas ruins previstas pra mim nos últimos meses se realizaram (sobretudo as do mês anterior). uma verdadeira merda, não é? mas tudo bem. parece que julho é o meu mês: o amor vai me (re)encontrar! uhu! (ok. é dia 11 e... nada. alô amor, favor mandar um telegrama de aracaju ou do alabama. thank you.) até gostaria de escrever sobre isso, no entanto: "Prudência com palavras e atitudes". melhor não contrariar.

(ilustração: m.k.)



quarta-feira, 8 de julho de 2009




Entre a linhamorta e a linhachegada -- no acaso, quase lá!


"We are not what we dream. We are what we do, and all we have is action, and we can only really learn from experience. So if we can only learn from experience, what use is all this knowledge? (...) And so as you go out into the world, be aware of those inexperienced fools who offer easy, exotic solutions to painful and complicated problems. Do your best to learn from all your experiences, not just the sting of your failures, but also from the joyful accidents that will occur along the way."


Wayne Coyne, profeta e futuro líder mundial - ah, sim, e também vocalista do Flaming Lips -, num discurso de formatura que incluiu água-viva, tequila e outras estranhezas.




quinta-feira, 2 de julho de 2009




sadismfaction

ao menos, eu gostaria que fosse algo asqueroso, nojento, perturbador... comovente! mas se trata do oposto disso: faltam sangue, vísceras ou até mesmo agitação de bicho pedindo clemência. quando a gente esmaga uma traça com o pé não sobra nada além de uma poeirinha rala e sem graça na sola do calçado. apenas a sujeira entediante de um bicho-nada. uma existência medíocre alimentada por restos do teu papel, lã e pó. aqui em casa, não hesito duas vezes em pisar em cima delas com força. se estou pelo entretenimento, então eu brinco de marquesa e recolho aquele monte de bicho-nada com o papel enxarcado de urina e coloco no cesto de lixo para ir morrendo assim, aos poucos. ah, como é bom! morder os lábios e ficar imaginando a deterioração daquele algo-nada que também nunca me disse (nada) naquele monte de merda. toda a ambiguidade e satisfação de um sorriso de canto estampado no vidro redondo. sim, o sadismo é tempero -- o melhor deles.







momento amparo de moça





ok. apresentação minha no leeds pub, dia 03/07, às 22h. compareçam! diz:
I find it hard to believe you don't know
The beauty that you are
But if you don't, let me be your eyes
A hand in your darkness, so you won't be afraid
é tão bobo, mas tão lindie
serve para ti, para nós





(ALÔ, CASSIENSES, O SHOW DELE É IMPERDÍVEL!)








ah, inferno! as minhas deduções andam pra lá de grosseiras, cruas. estou mais prum açougueiro enfurecido destrichando um porco ainda aos berros entre um ponto e outro que qualquer outra coisa. às vezes, invejo a elegância dos meus colegas ao dissecar as palavras. eles, médicos legistas, limpos, devidamente uniformizados e eu cá: sempre fedida, atrás do balcão com sangue velho apodrecendo sob as unhas.







linhasmorta
linhasmorta.







(hora de amolar as facas e sangrar o próximo texto.)







terça-feira, 30 de junho de 2009





li a versão em inglês da tal carta. eu faria EXATAMENTE a mesma coisa. boa sorte na FLIP!



cordialmente,
priscila.



PS: fora "conceitual" e por e-mail? mon dieu! sem dúvidas a tecnologia anda mais traiçoeira que a tubercoluse da spleen generation. ah, "o amor em tempos de msn: decifra-me ou eu te deleto" -- como diria o último colhudo do universo, Xico Sá.




domingo, 28 de junho de 2009




adição

num momento de fissura, já cheguei a digitar no google "uma coisa incrível". e também a sair alucinada pelas ruas -- pessoas, músicas e livros -- procurando por ela. mas é impossível encontrar algo que nunca se perdeu, não é? então eu a invento mais uma vez. e de novo. e de novo. ah, esse meu vício maldito: a paixão... por paixão.


(rehab, por favor, antes que eu me encante pelo ruído da geladeira.)







da minha janela


(digno de tatuagem.)




sexta-feira, 26 de junho de 2009




labirinto de caminhos

SAP: "A linguagem é um labirinto de caminhos. Tu entra de um lado e sabe onde tá; tu chega de outro lado ao mesmo lugar... e não sabe mais onde tá."

poisé.

PS: pela gafe em achar (por um bom tempo) que o loiro aí era alemón. mas, imagina... A Áustria era O lugar -- pra tudo -- no séc. XX. ai, mongas.





domingo, 21 de junho de 2009




Para quem soube ensinar.*

E pensou, ser amada era o suficiente. Foi adulada e admirada incondicionalmente. Com o tempo sentiu que isso não bastava. Então, ela decidiu que amar era o suficiente, amar por dois ou três, quem sabe. Entregou-se até a última gota de si e teve prazer em doar-se assim. Com o tempo ela sentiu que aquilo não bastava. Então ela decidiu que queria amar e ser amada. E o fez. Com o tempo ela percebeu que aquilo também não bastava. Tão triste e incrédula que estava, resolveu morrer. Jogou-se de um prédio e de forma bem dramática pousou na calçada, toda quebrada. Percebeu que aquilo não adiantava. Era uma grande besteira morrer. Então, reviveu, mas aquela dor, aquela dor não passava. Então, foi a um psiquiatra. Ele receitou comprimidos muito fortes que a faziam morrer em vida. Ela gostou daquele estado por um tempo, mas viu que aquilo não bastava. Então, ela foi a um banco. E, aplicou todo seu dinheiro em ações. Ficou rica num instante. Esbanjou como pode e quis e ainda sobravam cifras imensuráveis. Com o tempo ela viu que aquilo não bastava. Então, ela foi a uma vidente. A mulher lhe disse coisas assombrosas. Ela ouviu atentamente, deu-lhe toda a sua fortuna e matou uma galinha. Tingiu-se do sangue e esperou por sua fortuna. Nenhuma mudança ocorreu, a não ser ter ficado pobre. Viveu na rua por um tempo, roubando e usando drogas baratas para poder suportar aquela dor, aquela dor que não passava. Chegou a condições sobre-humanas, sim, sobre. E ali permaneceu desfrutando de sua sina. Com o tempo viu que aquilo não bastava. Então, ela pegou uma carona e foi viver no campo. Achou trabalho em uma estância. Não falava. Achavam que ela era muda ou louca. Ou muda e louca. Cega não era, por certo. Nem surda. Seu voto de silêncio levou-a a intrincados conceitos de vida e modo de vida. E quando abriu a boca pela primeira vez em de tantos anos, desatou a falar. Foi um tratado sobre a existência, um tratado filosófico sobre. Pediram que repetisse aos amigos e parentes dos estancieiros. Ela o fez. Pediram que repetisse mais uma vez, ela sem pestanejar, o fez. E assim muitas vezes. Com o tempo viu, aquele lero-lero não bastava. Então, ela resolveu publicar um livro. Para tanto, voltou a seu silêncio e abandono do externo e de uma só vez, escreveu tudo e como se não bastasse ainda escreveu mais um tratado. Saiu junto com o primeiro. Das coisas pequenas e simples. Quando ia engatar uma terceira obra, viu que aquilo não bastava. Então, ela foi vender os livros. Muitas pessoas compraram, muitas pessoas reproduziram as suas idéias. Um filme foi feito e ela foi convidada a participar. Com o tempo ela viu que aquilo não bastava. Então, ela comprou um telefone, mas não tinha pra quem ligar, e também, não poderia conversar com uma pessoa àquela altura da vida. Logo, ela jogou o telefone no lixo. E comprou um microfone e um amplificador. Agora sim, não precisaria falar a uma pessoa, poderia falar a ninguém e a todos os interessados, ao mesmo tempo. E falou, falou, falou tanto que sua língua secou e paralizou. E então ela voltou ao silêncio, mesmo tendo um microfone, um amplificador e uma platéia. Ficava no meio de tudo, acima de todos com a língua inútil e os olhos mansos. Assim foi por incontáveis dias. Com o passar do tempo ela percebeu que aquilo não bastava. Então ela decidiu esquecer tudo. E como quem apaga um poema feio, escrito a lápis, ela se desfez de todas as memórias que tinha. O que restou foi um grande espaço em branco. Um enorme e envolvente vácuo. Um mar de folhas contínuas, uma igual à outra. Um espaço sucedendo o outro. Ela corria para um lado e acabava no mesmo sem deixar vestígio algum e sem achar qualquer sinal de lembrança vivida ou mesmo inventada. O vazio foi ficando dolorido e aquela dor, aquela dor não passava. Com o tempo ela entendeu que aquilo não bastava. Então ela teve uma idéia. E pensou, ser amada era o suficiente.

*Texto da minha escritora favorita (talentosa e premiada -- é claro) e amiga do cuore NATÁLIA BORGES (ainerciadealice.blogspot.com). Ah, sim, meu presente de Natal.ia (sempre).




terça-feira, 16 de junho de 2009




mentendimento




dear m.,

my heart goes out to you. thank you for your drawing and thoughts. i wish I could go out looking for extraordinary hats with you.

sincerely.

yours,
p.




sábado, 13 de junho de 2009




Pra não dizer


E aí que as coisas estiveram bem, muito bem, inúmeras vezes nesse intervalo de tempo entre uma euforiagorasemespaços e outra. Ou eu quis acreditar que Sim. Não sei ao certo. Pra mim, a realidade é algo bastante complexo e (quase) insuportável –– embora eu tenha desenvolvido uma ou outra estratégia para “ir levando”. Ou melhor, a la Zeca Pagodinho, para ser levada pela vida.


Eu hesitei em escrever aqui porque eu andava feliz e, egoisticamente, não quis compartilhar isso com ninguém. Talvez, porque eu tivesse um medo infantil de, ao falar ou escrever sobre, diminuir a importância dos momentos ou o quão eles estavam significando pra mim. Assim eu havia decidido apenas vivenciá-los evitando racionalizar (demais) ou refletir-me diante do texto, (des)construindo-me enquanto sujeito – aquelas coisas, you know.


Mas a minha previsibilidade me enoja, arg! É claro que eu não consegui apenas me cercar dos fluxos dos outros. Tenho uma necessidade constante de estar sempre submergindo, querendo ir mais e mais e mais e mais pra dentro. É como se eu não agüentasse as trocas, as pressões da superfície por ser um daqueles estranhos animais abissais.


Noutro dia, o meu amigo me chamou a atenção que, sendo dessa maneira, eu estaria me tiranizando. Esse vício de buscar mais o dentro que o fora, de eterna vigilância e avaliação pra ser “moralmente melhor”. Disse também que eu vivo muito em função do meu passado, dos meus surtos e que isso me impede de ser outras coisas, de ir além. De fruir! Não que eu não frua nunca. Pelo contrário, eu até consigo, mas esteticamente – sobretudo quando eu danço (em tempo, eu acho que é uma das poucas possibilidades de se realmente fruir, de não ser nada, senão um corpo em movimento, desmitificado, como pensava Maurice Béjart).


Ah, o que eu mais quero é me tornar a minha antítese! Mas, honestamente, eu tenho muito medo disso. Tenho medo de cair numa zona de conforto, de achar que estou fruindo quando, em verdade, nunca deixei de ser sujeito; de apenas estar alheia ou negando essa condição; de me apropriar desse discurso pra lá de interessante e utilizá-lo como uma roupa de mergulho pra travestir a covardia das águas.


(373)


Eu não sei mais onde eu quero chegar com esse texto. Duvido até que consiga chegar a algum lugar. E preciso Chegar pra que, não é? Tenho certeza que alguém me provocaria com essa. Enfim. 408 palavras de uma página pra não dizer o que eu queria. Pra não dizer dizendo. Pra não falar no tempo dos nossos encontros e desencontros. Pra não dizer o que sinto falta: Pra não dizer: Desejo.



PS: a minha mãe ta aqui ao meu lado dizendo que eu não deveria “intelectualizar tanto a realidade”. Sugere que eu simplifique a vida e me atenha ao “concreto”. E, por fim, que “sedimentar” pode ser Bom – embora ele discorde (e eu ainda não saiba).


-




domingo, 17 de maio de 2009




Enquadramento



SóA idiota sóparou de me sufocarsó quando a visó no sofásó de dois lugaressó; quando sónos compreendemos só na Loposó em nossas cores. s ó s.






Em mim.

de mim
para mim:
1/3


"No tengo espejos en mi casa. Mi marido no los necesita y yo los odio. Sí hay espejos, claro, en los servicios del despacho; y normalmente me lavo las manos con la cabeza gacha. He aprendido a mirarme sin verme en los cristales de las ventanas, en los escaparates de las tiendas, en los retrovisores de los coches, en los ojos de los demás. Vivimos en una sociedad llena de reflejos: a poco que te descuidas, en cualquier esquina te asalta tu propia imagen. En estas circunstancias, yo hice lo posible por olvidarme de mí. No me las apañaba del todo mal. Tenía un buen trabajo, buenos amigos, libros que leer, películas que ver. En cuanto a mi marido, nos odiábamos tranquilamente. La vida transcurría así, fría, lenta y tenaz como un río de mercurio. Sólo a veces, en algún atardecer particularmente hermoso, se me llenaba la garganta de una congoja insoportable, del dolor de todas las palabras nunca dichas, de toda la belleza nunca compartida, de todo el deseo de amor nunca puesto en práctica. Entonces mi mente se decía: jamás, jamás, jamás. Y en cada jamás me quería morir. Pero luego esas turbaciones agudas se pasaban, de la misma manera que se pasa un ataque de tos, uno de esos ataques furiosos que te ponen al borde de la asfixia, para desaparecer instantes después sin dejar más recuerdo que una carraspera y una furtiva lágrima. Además, sé bien que incluso a los guapos les entran ganas de morirse algunas veces. (...)"


Rosa Montero.

P.S.: lembro (detalhadamente) do João Ubaldo Ribeiro lendo este trecho de "Amor ciego" num programa do People + Arts há quase uma década. nunca esqueci. eu só me sei diante dos textos rasgados em mim: quando a memória opera no meu corpo cicatrizando o tempo. ontem, por exemplo, choveu. os pontos se contorceram em fisgadas agudas alterando a sensibilidade, evidenciando a costura. então senti os choques. então: sen_______ti.





segunda-feira, 4 de maio de 2009

Em sustenido




Eu realmente tenho dois corações:
um, dobra na goela;
o outro, explode no peito.

sábado, 28 de março de 2009




Réquiem para /carrrne


Nenhuma dessas doenças dos tempos de hoje é tão destrutiva e insuportável quanto o desespero de pisar numa bosta de cachorro!


Se procurar pelo autor da frase, não encontrará registro algum. Nada. Nem poeira de caracter nem vestígio de pixels. Não adianta especular, consultar os universitários ou buscar no googleráculo. Essa frase, existindo aqui nos meus registros, é como se nunca tivesse existido. Mas ela existe, sim. Em algum rincão virtual, está no /carrrne entre 2005-2009.

Trepanação, VLFN, guerra, Flaming Lips, Gamboa, Alcione, podridão, candura, breguice, Jodorowsky, Mano Lima, Roberto Carlos, carneirinho, Carneirinho, Bethinha, Carneirão, Jesus, Beck, monstro do abajur, BEC, Lamounier, Sopranos, Sônia Rocha, Rangel, sóbrios, bêbados, bárbaros, lhamas, capivaras, Tinico, flyers, Inter, amores, império, implicâncias, grosserias... Carne, carne, carne, lã e muita carrrne.

É evidente que foi paixão à primeira interrogação. Não que lá objetivamente estivessem -- até porque o /carrrne estava cansado de se auto-referir como: "eu sou um aleatório". Contudo os posts eram irremediavelmente uma provocação, fossem pelas imagens (convencionais, imagéticas) ou pela linguagem (própria -- repleta de regionalismos, gírias, neologismos --, humor, senso crítico e qualidade literária de muita).

Há pouco mais de um ano que eu descobri que a carne era saborosa, dava barato e viciava. Mas também que comendo carne (freqüentemente) se moía vidro. Achei contraditório, incoerente e detestável. Por isso amei e virei fã -- daquelas que tinha grafado no (jurássico) papel de agenda as datas (e algumas frases soltas) dos posts que mais gostava e não desistiu até que os amigos vissem todas as maravilhas que via.

Toda essa memória e dimensão da carne tá perdida por aí no estômago de algum banco de dados -- se é que já não foi digerida. Mas sem chororô porque desapareceu da melhor forma possível, aleatoriamente -- do jeito que começou. Inesperado, rápido e rasteiro. Surpreendeu todo mundo, inclusive ele próprio. Golpe de mestre!

Vida longa à carne nova então!
(ou não!)

***

/dercy_vive. Fotolog.com. 26/03/09.





sexta-feira, 30 de janeiro de 2009





em
sis
tem







alguém prevera:
vai explodir.
_____

o vemelho ou o azul o vermelho ou o azul -- rápido -- o vermelho ou o azul o vermelho ou o azul -- droga, é agora -- o vermelho ou o azul? o vermelho...
claque.
_____

estava jantando. na mesa, uma lata de coca-cola com gelo, um pedaço de frango e alguma salada de folhas. verdes. os amigos e o murmurinho em valsa no entorno. silêncio. de repente, a pressão empurra ouvido abaixo. o negro devorando. e _____. ela percebe. a garçonete a leva para fora do bar. uma cadeira e um punhado de sal. na travessa. e _____. nada. chama aquele amigo. avisa que não estou bem e preciso ir embora de imediato. [ele nem suspeita que cortaram o vermelho.] despedem-se. ela está no táxi.
abre a porta de casa e desaba na cama. e _____. nada. o negro subindo na contramão. e ela nervosa. pensa em chamar alguém para socorrê-la. não consegue. e ela. nervosa. primeiro, as mãos não respondem; depois, a voz desvia do pensamento. desespero. e ela. _____. acha que está morrendo. (cortaram o vermelho, meu deus, o vermelho!) tenta discar e chamar ajuda. não consegue -- não há fios. o celular. ou a fenda [sináptica]. e _____. ela _____. nervos a. aperta o primeiro botão. ele atende. ela balbucia, resmunga, chora. ele entende. vai ao encontro. tenta parecer calmo. [não está.] chegam à emergência.
ela grita: cortaram o vermelho, me ajudem! cortaram o vermelho! por favor, o vermelho, o vermelho! ninguém entende. grunhidos vociferam na sala. tenta se levantar. quer ir embora. ninguém entende. cambaleia. cai na poltrona e arranca mais fios. ninguém entende. nem aquele, nem esse. o clima é de suspeita. teste. ninguém entende. regurgita. desequilibra. deitam-na. a maca é estreita. [só cabem ela e a dor.] mais fios. segura na minha mão. está frio. inspira. expira. inspira. expira. ins...

_____

ela pergunta:
e a explosão? consertaram o vermelho?
alguém responde.
finalmente, compreenderam-na. [mas está coxa e surda de um ouvido.]

_____




quinta-feira, 29 de janeiro de 2009




Contudo

(...)

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me agüente comigo e com os comigos de mim.

A.C.




quinta-feira, 22 de janeiro de 2009





Credo. vai dormir que tu ganha mais. tomara que eu me engane mesmo. quem precisa de retardado?

maria t., minha supermãe (e seu inconfundível pragmatismo).
mensagem de texto recebida no celular às 00h49 de hoje.





quinta-feira, 8 de janeiro de 2009




um americano, um brasileiro e um alemão

... e quando a vida afetiva pode ser resumida numa piada de mau gosto?
... e quando a sexual consegue ser ainda mais pitoresca que o currículo lattes?



(considerando seriamente o estilo de vida monástico.)