terça-feira, 23 de dezembro de 2008




ainda

eu só fico bem quando não estou aí.
se tu não estás aqui, fico mal.

aí vou pra lá.

aqui e lá não são aí.
aqui, lá e aí poderiam ser
[se quiséssemos].

onde é que estou afinal?

q l ´inexistem
sem as tuas vogais.

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008




no oceano,

O nível da água subia. E subia. E subiam as escamas. E a água se misturava e -- impiedosamente -- invadia a carne. Choques na espinha (de frio). E vontade. E vontade. de sacudir a cauda de peixe e escondê-la entre as pernas. E vontade. De partir. Mas as pernas dobravam na cauda. EUm caldo. Eu. for ia fog a da. fog ou. Se.




sábado, 13 de dezembro de 2008




o fim e o princípio

"Nós queremos ouvir histórias. Nós queremos saber de pessoas que falam da vida. Vocês não tem uma vida? Eu quero histórias... Como se vive ou se vivia no sertão e... As pessoas têm histórias."

Eduardo Coutinho -- dizem que é documentarista; para mim, um dos maiores etnógrafos contemporâneos.




(Coutinho) - A senhora reza de tudo, espinhela caída...
(Mariquinha) - Peito aberto, dor de cabeça, dor de dente. Olhado, quebranto, ventre caído. Triação. Mal vermelho. Tomar sangue de palavra. Espinhela caída é o cabra rezar aqui [mãos sobre os ombros] com uma trouxa de cinza, né? E alevantar os braços aqui, três vezes. E puxar aqui nas orelhas.
(C) - E a reza, qual é? E as palavras?
(M) - Não digo, não. Ninguém ensina, não, que não serve.
(C) - Sempre deu certo?
(M) - Deu. Toda vida. E tudo isso só vem pra minha casa.
(C) - A senhora cobra? A senhora cobra dinheiro?
(M) - Nunca recebi nada. Que reza não se vende. Vende?




"Sente, menino. Prá cá, rapaz. Pobreza não pega em vocês, não. (...)
A vida é um parafuso: só quem distorce é Jesus, né? No dia de chegar."

Assis, sertanejo do sítio de Araçás, Paraíba.




(esses são alguns momentos do documentário que acabei transcrevendo tamanha a dimensão dos significados dos temas abordados. sem dúvida, o 'olhar' da equipe do coutinho é extraordinário!)





terça-feira, 2 de dezembro de 2008




- Fireball!

Foi a única palavra que conseguiu pensar enquanto ainda estavam abraçados. Sentia o calor se formando no centro, envolvendo-lhe cada fibra muscular até as extremidades do corpo, proporcionando uma sensação jamais experimentada. Não foi necessário mais que alguns minutos para reconhecer o potencial viciante daquela droga selada pelo encontro em duo. Resignou-se. Ciente da vulnerabilidade àquele princípio, passivamente, aceitou a mudança de cor. Eu____foria tingida de novo (ao menos, era o que denunciava a imagem alaranjada refletida nas gotas d’água sustentadas pelo azulejo do banheiro).