domingo, 24 de fevereiro de 2008

*republicando para comprovar uma teoria especulativa.


Várias mortes, um transe e uma vida.
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Há dois assuntos pelos quais sou realmente obcecada por: amor e morte.

Eu gosto de gostar (e muito). Quando eu não gosto, não vivo: sobrevivo. As paixões são o meu pulmão, o meu impulso. O amor, minha devoção.

Com as separações, definitivamente, não sei lidar. Os amigos vivem me chamando para despedidas disso ou daquilo - nunca vou. Com a morte, então - que envolve ritos de passagem e desencadeia uma infinidade de questionamentos e reflexões -, é ainda mais complicado. No entanto, desde o nascimento, a minha única regularidade é morrer muitas vezes. De amor, de tesão, de saudade. De chorar, de rir, de odiar... Simbólica ou não, a morte anda me cercando e eu tenho pensado sobre epitáfios.

[quebrei aqui]

Meu aniversário de vintetrês anos é em, aproximadamente, três semanas. Se eu morrer de morte morrida, isso deve ocorrer daqui uns cinqüenta anos. Meio século. Poxa, meio século. Tanta coisa mudou na segunda metade do XX. Será que a morte ainda será a mesma em cinqüenta anos?
Não interessa como estarei: embalsamada, mantida em nitrogênio líquido, cremada ou ____. Quero um túmulo bem bonito. Quero meu epitáfio com imagem e som. Um poema do Poe. Poderia ser The Lake, com a música homônima do Antony and the Johnsons e com imagens que me mantivessem viva - como a vista de Porto Alegre emoldurada pela janela do nono andar. Um filme sendo repetido ad infinitum, como aquela instalação do Tunga na Bienal de uns anos atrás - que mostrava a imagem do interior de um túnel acompanhada pela música Night and Day do Frank Sinatra, ambas sendo repetidas à exaustão, passando a idéia de continuidade, cirularidade e atemporalidade.

Simples assim. Várias mortes. Um transe.
E uma vida.

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The Lake

In spring of youth it was my lot
To haunt of the wide world a spot
The which I could not love the less -
So lovely was the loneliness
Of a wild lake, with black rock bound,
And the tall pines that towered around.
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But when the Night had thrown her pall
Upon that spot, as upon all,
And the mystic wind went by
Murmuring in melody -
Then –ah then I would awake
To the terror of the lone lake.
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Yet that terror was not fright,
But a tremulous delight -
A feeling not the jewelled mine
Could teach or bribe me to define -
Nor Love – although the Love were thine.
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Death was in that poisonous wave,
And in its gulf a fitting grave
For him who thence could solace bring
To his lone imagining -
Whose solitary soul could make
An Eden of that dim lake.
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(Edgar Alan Poe)

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