sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Estranhas Ocupações
Simulacros

"Somos uma família estranha. Neste país onde as coisas se fazem por obrigação ou fanfarrona, gostamos das ocupações livres, das tarefas sem importância, dos simulacros que de nada adiantam.
Temos um defeito: a falta de originalidade. Quase tudo o que resolvemos fazer foi inspirado – digamos francamente, copiado – de modelos célebres. Se contribuímos com alguma novidade é sempre inevitável: os anacronismos ou as surpresas, os escândalos. Meu tio mais velho diz que nós somos como as cópias de papel-carbono, idênticas ao original, salvo que de outra cor, outro papel, outra finalidade. Minha terceira irmã se compara ao rouxinol mecânico de Andersen; seu romantismo dá náuseas.
Somos muitos e moramos na Calle Humboldt.
Fazemos coisas, mas contar é difícil porque falta o mais importante, a ansiedade e a expectativa de estar fazendo coisas, as surpresas tão mais importantes que os resultados, os fracassos em que toda família cai no chão feito um castelo de cartas e durante dias e dias não se escuta mais do que lamentações e gargalhadas. Contar o que fazemos é apenas uma forma de preencher os vazios inevitáveis, porque às vezes estamos pobres ou presos ou doentes, às vezes morre alguém ou (custa dizê-lo) alguém trai, renuncia, ou entra para a Direção do Imposto de Renda.(...)"
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el grand J.C.
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