terça-feira, 20 de maio de 2008







O homem com bunda de goleira



Eu___ nunca prestara à atenção nas derrières alheias. Mas de tanto equivocar-se quanto aos julgamentos de caráter, resolveu que, a partir de então, só os faria pela bunda.

Ligando os pontos, cu a cu, elaborou uma teoria precisa sobre a personalidade humana. Ciente do feito, optou por não fazer alarido sobre a descoberta. É evidente que não a levariam a sério -- ainda mais após a fuga do verbo. Além disso, quem ousaria contrariar o poeta e dizer: a tua bunda é um choro eterno, vitimizado e desinteressante?! Ela não. Não, ao menos, enquanto fosse cu doce.


Numa madrugada dessas de outono, ele a convidou para sair novamente. Eu___, exímia coletora de migalhas afetivas, acabou aceitando sob a desculpa: "só vou porque preciso descbrir o que diz aquela bunda! por isso!".

Encontraram-se na casa de amigos. Entre tantas bundas descaracterizadas por causa da meia luz ou do jogo de sofás, era necessário um certo malabarismo para fitar o alvo em questão. Numa retirada estratégica para pegar mais bebida na cozinha, voltou o seu olhar para sala exatamente no momento que ele se agachava.

"Meus sais! Ele tem bunda de mulher! Que bizarro! É uma bunda de mulher... E... Meus sais, meus sais! E é grande, enorme, muito maior que as coxas, as costas, o quadril. Nossa! Como é que fui me apaixonar por uma bunda à espera de um gol?".

O homem com bunda de goleira deixa um pesado copo de vidro cair no chão. Histeria coletiva predomina no ambiente. Eu____ desmaia sobre o verbo -- festa é um não lugar próprio para o refúgio da ação.

E, finalmente, estava pronta para reencontrá-lo.

Tirou o acento do cu e cobrou alguns pênaltis.




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