*republicando para comprovar uma teoria especulativa.
Várias mortes, um transe e uma vida.
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Há dois assuntos pelos quais sou realmente obcecada por: amor e morte.
Eu gosto de gostar (e muito). Quando eu não gosto, não vivo: sobrevivo. As paixões são o meu pulmão, o meu impulso. O amor, minha devoção.
Com as separações, definitivamente, não sei lidar. Os amigos vivem me chamando para despedidas disso ou daquilo - nunca vou. Com a morte, então - que envolve ritos de passagem e desencadeia uma infinidade de questionamentos e reflexões -, é ainda mais complicado. No entanto, desde o nascimento, a minha única regularidade é morrer muitas vezes. De amor, de tesão, de saudade. De chorar, de rir, de odiar... Simbólica ou não, a morte anda me cercando e eu tenho pensado sobre epitáfios.
[quebrei aqui]
Meu aniversário de vintetrês anos é em, aproximadamente, três semanas. Se eu morrer de morte morrida, isso deve ocorrer daqui uns cinqüenta anos. Meio século. Poxa, meio século. Tanta coisa mudou na segunda metade do XX. Será que a morte ainda será a mesma em cinqüenta anos?
Não interessa como estarei: embalsamada, mantida em nitrogênio líquido, cremada ou ____. Quero um túmulo bem bonito. Quero meu epitáfio com imagem e som. Um poema do Poe. Poderia ser The Lake, com a música homônima do Antony and the Johnsons e com imagens que me mantivessem viva - como a vista de Porto Alegre emoldurada pela janela do nono andar. Um filme sendo repetido ad infinitum, como aquela instalação do Tunga na Bienal de uns anos atrás - que mostrava a imagem do interior de um túnel acompanhada pela música Night and Day do Frank Sinatra, ambas sendo repetidas à exaustão, passando a idéia de continuidade, cirularidade e atemporalidade.
Simples assim. Várias mortes. Um transe.
E uma vida.
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The Lake
In spring of youth it was my lot
To haunt of the wide world a spot
The which I could not love the less -
So lovely was the loneliness
Of a wild lake, with black rock bound,
And the tall pines that towered around.
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But when the Night had thrown her pall
But when the Night had thrown her pall
Upon that spot, as upon all,
And the mystic wind went by
Murmuring in melody -
Then –ah then I would awake
To the terror of the lone lake.
.Yet that terror was not fright,
But a tremulous delight -
A feeling not the jewelled mine
Could teach or bribe me to define -
Nor Love – although the Love were thine.
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Death was in that poisonous wave,
And in its gulf a fitting grave
For him who thence could solace bring
To his lone imagining -
Whose solitary soul could make
An Eden of that dim lake.
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(Edgar Alan Poe)
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